sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

'Whatever Works' - Critica

Mais um ano cinematográfico, mais um novo filme de Woody Allen. Tem sido assim já há algum tempo. Em Portugal sempre com uns meses de atraso em relação à estreia Americana, mas sempre no início de cada ano. A sua nova comédia, Tudo Pode dar Certo, ou Whatever Works no original, conta no seu elenco com Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson, Ed Begley, Jr., Michael McKean e Henry Cavill.

Woody Allen é inegavelmente um grande cineasta, mas em contra-partida, infelizmente por cada Hollywood Ending, Melinda e Melinda, Match Point e O Sonho de Cassandra que nos apresentou na década passada, tivemos um Anything Else – A Vida e Tudo Mais, um Scoop ou um Vicky Christina Barcelona pelo meio (não que sejam maus filmes, mas bastante inferiores). Depois de cinco anos a filmar na Europa (Inglaterra e Espanha) Allen regressa assim a Nova Iorque, à sua zona de conforto e ao seu humor Nova-Iorquino. Este Whatever Works não será apontado para o mesmo nível das suas mais recentes obras primas, mas também não será detestado. Ao contrário de Scoop, por exemplo, esta já é uma aproximação da típica comédia de Woody Allen, ou digamos mais ‘vintage’, e a melhor comédia do realizador desde Hollywood Ending.

Sempre melhor realizador do que actor, já que o seu registo de interpretação é sempre o mesmo, neste Whatever Works Woody Allen não é protagonista, mas tem aqui Larry David (também Nova-Iorquino de nascença) no papel principal de Boris por sua vez. Isto porque Larry David faz precisamente o papel que Woody Allen poderia fazer, com novidade e frescura, já que as personagens que interpreta parecem praticamente as mesmas de filme a filme. Pode-se dizer que Larry David interpreta o alter-ego de Woody Allen.

Só um apontamento interessante, depois de um pequeno prólogo, a personagem principal de Boris quebra a ‘quarta parede’ (faz isso muitas vezes durante o filme) e fala directamente para a audiência a alertar-nos que este não será um ‘feel-good movie’, mas muito propositadamente não podia estar mais enganado! Whatever Works é um filme bem simpático e hilariante, e que mostra que Woody Allen, apesar de ainda não estar no seu melhor nível em relação à comédia, está certamente em boa forma.

Larry David interpreta então Boris, um génio egocêntrico e quase nomeado para um prémio Nobel em física. Mas Boris é um ser humano desprezível e com muito mau temperamento. É pessimista, frio, arrogante, e que insulta as crianças a que ensina xadrez de incompetentes, tudo isto a juntar a um desejo de morte, mas tudo ao bom nível cómico. Até que a sua vida muda por completo quando à porta de sua casa encontra uma sem abrigo que fugiu de sua casa em Mississipi. Ela é Melody, interpretada por Evan Rachel Wood, onde Boris a alimenta e deixa-a ficar alojada uns dias em sua casa e que mais tarde aproveita para mostrar-lhe Nova Iorque. Com o passar do tempo Boris tenta manter desta forma a sua vida balançada, onde assim fica menos tentado em acabar com ela e sem medo que acabe. Sem, claro, contar ou adivinhar com as peripécias que irão surgir.

A juventude, principalmente feminina, já é uma constante na obra de Woody Allen, e até a pouco que Scarlett Johansson foi considerada pelo próprio como a sua musa. O realizador parece sentir essa necessidade de conviver com pessoas mais jovens, e o seu trabalho mostra o quanto jovem e liberal ainda o é em espírito. Larry David retrata aqui o Woody Allen do outro lado do espelho, que nos faz lembrar com muito agrado de Manhattan. Ou não fosse o guião, assinado pelo próprio, re-escrito de um outro deixado para trás nos anos 70 (escrito para Zero Mostel que faleceu em 1977), mas adaptado para os dias da América de hoje. Com isto em mente, convém pensar um pouco porque é que os filmes do realizador não ‘envelhecem’, quando as únicas mudanças que fez no argumento foram as referências políticas e algumas sociais.

Whatever Works não é certamente nenhuma obra-prima de Woody Allen, mas nota-se claramente que a intenção nem sequer era essa. Quando a sua fórmula de comédia mantém-se, com os seus longos diálogos e ‘gags’ simplesmente deliciosas que serve perfeitamente para sustentar o filme na sua integra, certamente que os seus fãs não sairão desiludidos em ver esta sua nova obra. É uma comédia de um Woody Allen em boa forma. Como Boris diz: “Whatever Works…”.


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