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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crítica: 'The Box – Presente de Morte'

Depois de alguns percalços devido à sua estreia, e não falo só em Portugal, que nos chega também com bastante atraso, The Box parecia estar à partida condenado devido à sua incerteza perante a estreia nos cinemas americanos após sucessivos adiamentos por parte dos estúdios da Warner. The Box acabaria de estrear no mercado americano apenas em Novembro de 2009, praticamente um ano após a sua conclusão.

Richard Kelly, realizador do filme de culto Donnie Darko, após Southland Tales – uma incursão mais estilosa à ficção-cientifica – regressa ao género em que provavelmente se sente mais à vontade: ao thriller de suspense, isto mais especificamente já que todos os seus filmes, incluindo este The Box, têm elementos de ficção-cientifica.

The Box, que pode então ser considerado tanto um drama de suspense e terror psicológico como um thriller de ficção-cientifica, é baseado no conto 'Button, Button' de Richard Matheson, que também foi adaptado para um episódio da série Twilight Zone nos anos 80. Passado em 1976, altura da exploração espacial dos Estados Unidos da América quando a Nasa envia a sonda Viking para recolha de dados do planeta Marte, Cameron Diaz (uma professora que se vê confrontada com o desemprego) e James Marsden (um engenheiro da Nasa) são um casal com um filho que, em alturas de problemas financeiros, são confrontados com uma solução misteriosa para a sua crise: uma caixa deixada de noite à porta de sua casa. As regras são simples, ou assim parecem: nessa caixa, se carregarem no botão vermelho, ganham 1 milhão de dólares. O contra é que, se carregarem, um ser humano desconhecido terá de inevitavelmente morrer. Tudo isto terá de ser decidido em conjunto pelo casal por um prazo limite de 24h.

Um homem com a cara meia-desfigurada com propostas duvidosas, dilemas morais e éticos, drama familiar, espiões russos a espreitarem pela janela e realidades alternativas, são a receita de The Box para um thriller tenso e misterioso, quase num misto de Hitchcock com David Lynch. A acrescentar é que Richard Kelly consegue filmar aqui um regresso ao mais clássico thriller de ficção-cientifica num fabuloso mise en scène. The Box pode muito bem ser considerado um tributo aos thrillers de ficção-cientifica dos anos 70, porque para além da narrativa passar-se nessa década parece ser um produto filmado nessa altura, factores a realçar e que ajudam por um pormenorizado guarda-roupa e uma elaborada direcção de arte.

A narrativa joga aqui com um papel relevante da natureza humana, de instintos naturais e de moralidade ética. A caixa pode ser vista com um objecto maléfico e tentador para uma humanidade cega por poder e ganância. O único ponto fraco do filme é mesmo o do vilão, Mr. Steward, interpretado muito sinistramente por Frank Langella. Pode-se dizer que se o filme tivesse menos meia hora, e sem descrever tanto o passado do vilão The Box, seria ainda mais intrigante e misterioso, tal como Donnie Darko o foi (e continua a ser). O filme procura explicar em demasia, e existem aqui algumas explicações e conclusões que, para além de confusas, são simplesmente desnecessárias.

The Box é no entanto um filme tenso, uma viagem imprevisível e desconcertante com uma atmosfera sinistra dividido pela condição humana com o universo de cinema fantástico, com uma mensagem cínica sobre a humanidade, uma mensagem que pisca o olho ao original O Dia em que a Terra Parou (1951). Com boas e confiantes interpretações do trio principal e uma grande dose de suspense, The Box não é no entanto um filme para todos, para além de ser confuso em momentos é lento, mas vive dessa narrativa de drama para envolver o espectador, num raro caso nos dias de hoje onde a ficção-cientifica é filmada de um modo inteligente. Vive de um terror mais psicológico, não só assustador mas desconfortante por parecer um retrato quase futurista da humanidade, isto é, se o filme fosse visto na altura seria hoje uma mensagem actual da nossa sociedade.



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Crítica: 'Saw VI – Jogos Mortais' - Let the final game begin…

Sexto filme da qual já é a mais rentável saga de terror de sempre do cinema, feito já distinguido pelo Guinness World Records na última Comic Con em San Diego. A franchise de Saw já somou até ao momento um recorde de 733 milhões de dólares nas bilheteiras mundiais. Saw VI, ainda que bastante atrasado em relação à estreia americana, chega-nos aos cinemas portugueses em pleno mês de Agosto para nos fazer suar ainda mais. Prova viva(?) disso, é a armadilha em que um dos posters é baseado: o famoso ‘carrossel’.

Ao sexto capitulo, e depois de quatro realizadores e outros tantos argumentistas, digamos que a esperança era pouca e a expectativa baixa, ainda para mais após um quinto filme bastante fraco que veio confirmar o decréscimo de qualidade da série. Dava mesmo a entender que de facto já não havia muito mais a contar, ou se houvesse seria inútil. No entanto, pode-se muito bem adiantar e afirmar que surpreendentemente este sexto filme é uma das melhores sequelas que a saga já nos apresentou até ao momento, juntamente com o Saw III, e que de certo não desiludirá a maioria dos fãs. Quando parecia que Saw se encaminhava na direcção errada, este novo capitulo veio dar-lhe o rumo certo à mitologia da saga. Este é um filme que dá novo fôlego a uma saga já com marcas de cansaço… Que já merecia um final digno e que este filme, se tivesse mais 15 minutos, seria o ideal para o oferecer ao invés de deixar o final em aberto.

A estreia do realizador Kevin Greutert, que já pertencia à equipa técnica dos filmes anteriores, curiosamente tal como David Hackl que realizou o filme anterior mas que foi substituído, é simples e eficaz e mais próximo dos primeiros filmes, isto é das realizações de James Wan (o criador da série e que sempre acompanhou a produção em todos os filmes) e Darren Lynn Bousman (realizador de três filmes consecutivos da saga). Tal facto veio talvez comprovar que David Hackl para Saw V foi se calhar uma má opção por parte dos estúdios. O argumento ajuda bastante e é escrito novamente pela dupla Patrick Melton e Marcus Dunstan, que parecem aqui ter acertado à terceira tentativa. Basicamente o centro do narrativa gira muito e de novo nos eventos passados mais marcantes e decisivos mas leva-os a outras direcções. Aqui pode-se muito bem referir que são os flashbacks o trunfo deste novo filme, apesar de já terem sido bastantes usados nas sequelas. Alguns acontecimentos já são familiares mas são sempre bom de lembrar, mas outros, mais relevantes, atam as pontas soltas enriquecendo a linha de tempo do passado de Jigsaw, culminando em dois twists finais, um deles, ainda que previsível, bastante esperado já que se vêm antecipando deste o início do quarto filme.

Se alguns flashbacks não estivessem aqui presentes, é certo que não sentiríamos a falta dos ditos, mas são estes pequenos pormenores que enriquecem a narrativa e nos fazem lembrar o porquê de após seis filmes ainda gostamos desta série. Porque Saw é muito mais do que uma saga de filmes de tortura, foi criada por James Wan a partir de uma narrativa forte, tensa e original dentro do género de terror, e é disso que devia viver, e apesar de se ter tornado repetitiva em alguns momentos é um marco no cinema de terror americano, que tão pouca qualidade têm mostrado ultimamente. Saw até pode não acabar bem com o último filme, mas é inegável que é A saga de terror desta década.

O argumento então enriqueceu, a narrativa compôs-se e até as interpretações parecem ter ficado mais sólidas e com mais química entre os protagonistas principais e secundários. Destaque óbvio, e como sempre, para Tobin Bell como John Kramer ou como é também conhecido pelo serial killer Jigsaw. Costas Mandylor, que tal como os filmes anteriores, parece mais saído de um episódio de CSI. Betsy Russell como Jill Kramer é finalmente merecedora de mais destaque e protagonismo neste filme. Mark Rolston e Athena Karkanis marcam regresso no restante elenco como a dupla de agentes do FBI, e – ainda que apenas em flasbacks – Shawnee Smith como Amanda.

Neste novo capitulo, o agente Mark Hoffman (Costas Mandylor) continua o legado de Jigsaw. Sendo actualmente o único discípulo restante, Hoffman segue o trabalho de vingança pessoal, espalhando a mensagem pelo mundo fazendo assim a última vontade do seu ‘mestre’. O famoso baú que John Kramer deixou à sua mulher Jill como ‘herança’ também é aqui um factor importante já que contêm os planos para o esquema final, que é aqui neste capitulo finalmente compreendido.

Curiosamente, o filme têm uma critica muito directa e forte ao sistema de saúde norte-americano. A vítima principal, Dr. William (Peter Outerbridge), é vice-presidente de uma agência de seguros e a sua equipa faz tudo por tudo para encontrar falhas nas fichas médicas dos seus clientes para negar os seguros dos doentes, muitos à beira da morte. Mas agora William para sobreviver têm que se sacrificar em prol dos outros, e aprender que a vida não se resume a uma simples equação matemática, percebendo assim que as decisões de que toma, ou seja quem vive ou morre, quando confrontadas cara a cara, não é tão fácil como julgava ser.

Sem desconfianças, Saw VI não desiludirá a maioria dos fãs da saga e deixa-nos então com expectativas para o sétimo (e último?) filme, ou como também é conhecido como Saw 3D, mas deixa-nos também com um travo de descontentamento por parecer uma saga que parece não ter fim à vista. Portanto pela mesma equipa que nos apresentou este mais recente capitulo, as armadilhas mortais de Saw regressam em 3D ainda este ano, já que estreia nos Estados Unidos da América a 22 de Outubro e novamente à beira do Halloween onde por esta altura já se tornou tradição.

“You think it’s the living that will have ultimate judgment over you, because the dead will have no claim over your soul. But you may be mistaken.” (Jigsaw)


domingo, 7 de março de 2010

Critica: Heartless, de Philip Ridley

Heartless de Philip Ridley, o grande vencedor do Fantasporto 2010 em três categorias principais (Melhor Filme da Secção Fantastico, Melhor Realização e Melhor Actor) é sem dúvida um dos grandes exemplos actuais da definição de 'cinema fantástico'. Será realidade? Será alucinação? Heartless é tudo isto, centrado mais no drama humano e num romance contemporâneo, o filme junta dois elementos opostos que parecem de dois filmes completamente antónimos. Se por um lado temos o lado dramático e romântico encenado com sentimento e perfeição dentro de uma cinematografia urbana, do outro temos a tal parte 'fantástica' do surreal, neste caso demoníaca, numa sociedade (eu diria mundo) controlado pelo terror, e este muito sério e actual.

Sem querer estragar muito a narrativa, já que o prazer deste filme é mesmo descobri-lo lentamente e deixar-se levar, Heartless é no fundo, e no género fantasioso, a eterna luta entre o bem e o mal, ou mais a luta interior da personagem principal, protagonizada excelentemente por Jim Sturgess, que interpreta aqui Jaime, um jovem que nasceu com uma marca de nascença em forma de coração num dos lados da sua face, como tal e entre outros traumas familiares têm um grave problema de interacção com a sociedade. Jaime, logo no inicio do filme, tem dois encontros que marcam a personagem juntamente com a narrativa. O primeiro é quando num dos seus refúgios à fotografia captura numa das suas fotos um demónio, que mais tarde vai dar origem a um pacto à Fausto. A outra é quando conhece e apaixona-se por Tia (Clémence Poésy), são estes os dois pontos fulcrais que marcam o filme, e o seu ritmo. Heartless é de facto um bocado incoerente no ritmo da narrativa, mas neste caso, são como dois mundos distintos se unissem num só, cada um com o seu ritmo. E nisto o realizador britânico Philip Ridley consegue bem, muito também com a ajuda preciosa de, como já foi referido, Jim Sturgess.

Os fãs do cinema fantástico tem muito para se deliciar com este Heartless, que, visto agora, não surpreende ao ganhar a secção Fantástico, primeiro por prometer pouco, e depois após de ser exibido de ter aquela noção que este é um daqueles filmes típicos do Fantasporto.

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

'The Wolfman - O Lobisomem' - O regresso do terror gótico e clássico

Nova versão com produção um pouco atribulada do clássico da Universal datada de 1941, desta vez realizado por Joe Johnston, que substituiu Mark Romanek devido a diferenças criativas com os estúdios. The Wolfman, O Lobisomem em português, tem Benicio del Toro no papel principal que também co-produziu o projecto e que se inspirou na interpretação de Lon Chaney Jr. no filme original e em A Maldição do Lobisomem, a adaptação dos estúdios Hammer. Assim, à partida não fica nada mal referir que dificilmente haveria outro actor mais indicado (e não só fisicamente) para o papel de Lawrence Talbot e do Lobisomem, aqui excelentemente caracterizado pelo mestre Rick Baker. Anthony Hopkins, Emily Blunt e Hugo Weaving completam o resto do quarteto principal num elenco forte e certo nas suas interpretações, que é sempre um grande passo para qualquer filme, mas um passo ainda maior num drama de terror, isto é, personagens genuínas, convictas, e onde parte da obra é dedicada a prestar a devida atenção às mesmas. O argumento é assinado por Andrew Kevin Walker (argumentista de Se7en, 8mm e Sleepy Hollow).

Apesar de ser inegável a legacia existente por esta personagem já mítica do Lobisomem, ou o Homem-Lobo como ficou conhecido pelo seu filme original, tanto no cinema, na literatura, como na música, parece que a sua verdadeira origem tem sido simplesmente esquecida no cinema, onde as suas aparências e/ou referências têm sido limitadas e contornadas em géneros como em Van Helsing, aos seus ‘descendentes’ em Underworld, e aos ‘teen-wolfs’ da saga Crepúsculo. E, já agora, onde actualmente a moda dos vampiros predomina, The Wolfman é uma lufada de ar fresco no género fantástico.

Do melhor e para o pior, dos monstros clássicos da Universal já tivemos as recentes versões de Dracula: de Bram Stoker, Frankenstein, a trilogia da Múmia, passando por Van Helsing, este último com todas as figuras num só filme, tal como uma parada de monstros. É neste ponto que é importante parar e pensar um bocado, e de dar o exemplo do que seria deste The Wolfman com um realizador do género de Stephen Sommers (Múmia e Van Helsing respectivamente) como mentor desta produção? Certamente mais um projecto risório e de um esforço inútil no que toca à mitologia da personagem. Se podia agradar a outro género de audiências? Isso já era outra história. A título de curiosidade, depois deste The Wolfman, já se ouve falar em novas possíveis adaptações de Frankenstein, O Homem Invisível e de O Monstro da Lagoa Negra, para completar o leque dos ‘monstros da Universal Pictures’.

Lawrence Talbot (Benicio del Toro) é um famoso actor de teatro, que após décadas passadas na América, regressa à sua terra natal em Londres após de ter recebido uma carta da sua cunhada (Emily Blunt) a anunciar o desaparecimento do seu irmão. Talbot regressa assim a Blackmoor para saber pelo seu próprio pai (Anthony Hopkins) que o seu irmão foi brutalmente assassinado por o que se acredita ser um homem-lobo segundo superstições locais. Talbot, durante a sua investigação para encontrar o assassino do seu irmão num campo de ciganos, têm um encontro com a tal criatura mas por sorte do destino (ou não) sobrevive ao ataque, para mais tarde descobrir que iria sofrer um destino pior que a morte. A juntar à acção da narrativa temos um sempre carismático Hugo Weaving como um detective de Scotland Yard que se encontra a investigar estes misteriosos crimes, mentalizado que seja um serial-killer com uma doença mental, ao invés de acreditar no folclore sobrenatural local. As suas suspeitas recaem sobre Lawrence Talbot, devido ao seu passado.

A história já é bem conhecida, e apesar deste The Wolfman divergir um pouco do original, é completamente fiel ao seu ambiente e atmosfera. É, portanto, um conceito de trama simples tal como é suposto ser, e apesar de não ser um remake praticamente fiel ao original (e sem o comic relief), quem o espera que seja meramente uma cópia sairá bastante surpreendido. Este The Wolfman parece um filme completamente novo, ao contrário de muitos outros casos, isto porque a história é fiel mas foi aperfeiçoada, moldada, com ligeiras diferenças para um resultado mais dark no grande ecrã, incluindo um twist – ainda que previsível – mas muito bem pensado. Algumas diferenças são totalmente justificadas para a narrativa do filme, tal como o próprio motivo, no início, do regresso de Lawrence Talbot à sua casa em Blackmoor. E a mais visível é sem dúvidas a personagem do pai, aqui muito mais antipática, fria e distante, e interpretada magnificamente por Anthony Hopkins, onde até a própria relação entre os dois são completamente distintas.

O melhor é que The Wolfman é bastante influenciado pelo modelo mais clássico e dramático de um género de cinema que parece por vezes muito esquecido actualmente, principalmente nas mais recentes produções de terror onde a sua intenção é de apenas facturar milhões numa fórmula sobre-carregada por remakes, re-boots e sequelas, onde de facto este filme também se engloba mas que nos deixa a pensar porque é que demorou tanto tempo? The Wolfman pode ser considerado como uma mistura do terror clássico com gore actual e consegue surpreender bastante pela positiva, pela sua frescura que sabe a ‘velho’ e que de certo irá agradar a todos os fãs de um género mais clássico e dramático.

As cenas de acção e terror são bastante excitantes e muito tensas, com uma atmosfera gótica a ajudar ao ambiente. A época retratada é combinada com uma fotografia lindíssima e super envolvente num retrato magistral. Desde a escura floresta de nevoeiros densos à calma e desconfiança de uma Londres Vitoriana, tudo isto é grandioso e magnifico na tela. Pode-se dizer que a nível técnico, e com um CGI muito bem aplicado (principalmente nas transformações), o filme é visualmente uma pérola, nunca exagerado e extremamente bem conseguido.

A banda sonora é assinada por Danny Elfman, entre muitas outras obras sobressai logo o seu trabalho nos filmes de Tim Burton. Elfman esteve também em vias de ser substituído, mas podemos dar sinceras graças por isso não ter acontecido, já que a música é outra das peças fortes do filme, que cirurgicamente transporta a narrativa no seu todo.

The Wolfman é no fim um filme sobre o destino, onde a personagem principal sofre por se tornar involuntariamente em mostro (um anti-monstro), mas mais do que isso, tal como A Bela e o Monstro, cita também um amor impossível e trágico, e Emily Blunt é aqui crucial como personagem e interpreta muito mais do que aquele simples e habitual interesse amoroso quase sem finalidade.

Pode-se muito bem dizer que esta nova versão de O Lobisomem está para o cinema como o Dracula: de Bram Stocker, de Francis Ford Coppola, esteve na altura (e ainda continua a estar). E apesar de The Wolfman ter dividido bastaste a crítica, fica aqui a minha aposta e a forte recomendação para este filme, numa ressurreição de um terror mais clássico e que irá certamente crescer ao longo dos anos.

"Even a man who is pure in heart and says his prayers by night,
may become a wolf when the wolfbane blooms and the autumn moon is bright..."

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

'Whatever Works' - Critica

Mais um ano cinematográfico, mais um novo filme de Woody Allen. Tem sido assim já há algum tempo. Em Portugal sempre com uns meses de atraso em relação à estreia Americana, mas sempre no início de cada ano. A sua nova comédia, Tudo Pode dar Certo, ou Whatever Works no original, conta no seu elenco com Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson, Ed Begley, Jr., Michael McKean e Henry Cavill.

Woody Allen é inegavelmente um grande cineasta, mas em contra-partida, infelizmente por cada Hollywood Ending, Melinda e Melinda, Match Point e O Sonho de Cassandra que nos apresentou na década passada, tivemos um Anything Else – A Vida e Tudo Mais, um Scoop ou um Vicky Christina Barcelona pelo meio (não que sejam maus filmes, mas bastante inferiores). Depois de cinco anos a filmar na Europa (Inglaterra e Espanha) Allen regressa assim a Nova Iorque, à sua zona de conforto e ao seu humor Nova-Iorquino. Este Whatever Works não será apontado para o mesmo nível das suas mais recentes obras primas, mas também não será detestado. Ao contrário de Scoop, por exemplo, esta já é uma aproximação da típica comédia de Woody Allen, ou digamos mais ‘vintage’, e a melhor comédia do realizador desde Hollywood Ending.

Sempre melhor realizador do que actor, já que o seu registo de interpretação é sempre o mesmo, neste Whatever Works Woody Allen não é protagonista, mas tem aqui Larry David (também Nova-Iorquino de nascença) no papel principal de Boris por sua vez. Isto porque Larry David faz precisamente o papel que Woody Allen poderia fazer, com novidade e frescura, já que as personagens que interpreta parecem praticamente as mesmas de filme a filme. Pode-se dizer que Larry David interpreta o alter-ego de Woody Allen.

Só um apontamento interessante, depois de um pequeno prólogo, a personagem principal de Boris quebra a ‘quarta parede’ (faz isso muitas vezes durante o filme) e fala directamente para a audiência a alertar-nos que este não será um ‘feel-good movie’, mas muito propositadamente não podia estar mais enganado! Whatever Works é um filme bem simpático e hilariante, e que mostra que Woody Allen, apesar de ainda não estar no seu melhor nível em relação à comédia, está certamente em boa forma.

Larry David interpreta então Boris, um génio egocêntrico e quase nomeado para um prémio Nobel em física. Mas Boris é um ser humano desprezível e com muito mau temperamento. É pessimista, frio, arrogante, e que insulta as crianças a que ensina xadrez de incompetentes, tudo isto a juntar a um desejo de morte, mas tudo ao bom nível cómico. Até que a sua vida muda por completo quando à porta de sua casa encontra uma sem abrigo que fugiu de sua casa em Mississipi. Ela é Melody, interpretada por Evan Rachel Wood, onde Boris a alimenta e deixa-a ficar alojada uns dias em sua casa e que mais tarde aproveita para mostrar-lhe Nova Iorque. Com o passar do tempo Boris tenta manter desta forma a sua vida balançada, onde assim fica menos tentado em acabar com ela e sem medo que acabe. Sem, claro, contar ou adivinhar com as peripécias que irão surgir.

A juventude, principalmente feminina, já é uma constante na obra de Woody Allen, e até a pouco que Scarlett Johansson foi considerada pelo próprio como a sua musa. O realizador parece sentir essa necessidade de conviver com pessoas mais jovens, e o seu trabalho mostra o quanto jovem e liberal ainda o é em espírito. Larry David retrata aqui o Woody Allen do outro lado do espelho, que nos faz lembrar com muito agrado de Manhattan. Ou não fosse o guião, assinado pelo próprio, re-escrito de um outro deixado para trás nos anos 70 (escrito para Zero Mostel que faleceu em 1977), mas adaptado para os dias da América de hoje. Com isto em mente, convém pensar um pouco porque é que os filmes do realizador não ‘envelhecem’, quando as únicas mudanças que fez no argumento foram as referências políticas e algumas sociais.

Whatever Works não é certamente nenhuma obra-prima de Woody Allen, mas nota-se claramente que a intenção nem sequer era essa. Quando a sua fórmula de comédia mantém-se, com os seus longos diálogos e ‘gags’ simplesmente deliciosas que serve perfeitamente para sustentar o filme na sua integra, certamente que os seus fãs não sairão desiludidos em ver esta sua nova obra. É uma comédia de um Woody Allen em boa forma. Como Boris diz: “Whatever Works…”.


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