Nova versão com produção um pouco atribulada do clássico da Universal datada de 1941, desta vez realizado por Joe Johnston, que substituiu Mark Romanek devido a diferenças criativas com os estúdios. The Wolfman, O Lobisomem em português, tem Benicio del Toro no papel principal que também co-produziu o projecto e que se inspirou na interpretação de Lon Chaney Jr. no filme original e em A Maldição do Lobisomem, a adaptação dos estúdios Hammer. Assim, à partida não fica nada mal referir que dificilmente haveria outro actor mais indicado (e não só fisicamente) para o papel de Lawrence Talbot e do Lobisomem, aqui excelentemente caracterizado pelo mestre Rick Baker. Anthony Hopkins, Emily Blunt e Hugo Weaving completam o resto do quarteto principal num elenco forte e certo nas suas interpretações, que é sempre um grande passo para qualquer filme, mas um passo ainda maior num drama de terror, isto é, personagens genuínas, convictas, e onde parte da obra é dedicada a prestar a devida atenção às mesmas. O argumento é assinado por Andrew Kevin Walker (argumentista de Se7en, 8mm e Sleepy Hollow).
Apesar de ser inegável a legacia existente por esta personagem já mítica do Lobisomem, ou o Homem-Lobo como ficou conhecido pelo seu filme original, tanto no cinema, na literatura, como na música, parece que a sua verdadeira origem tem sido simplesmente esquecida no cinema, onde as suas aparências e/ou referências têm sido limitadas e contornadas em géneros como em Van Helsing, aos seus ‘descendentes’ em Underworld, e aos ‘teen-wolfs’ da saga Crepúsculo. E, já agora, onde actualmente a moda dos vampiros predomina, The Wolfman é uma lufada de ar fresco no género fantástico.
Do melhor e para o pior, dos monstros clássicos da Universal já tivemos as recentes versões de Dracula: de Bram Stoker, Frankenstein, a trilogia da Múmia, passando por Van Helsing, este último com todas as figuras num só filme, tal como uma parada de monstros. É neste ponto que é importante parar e pensar um bocado, e de dar o exemplo do que seria deste The Wolfman com um realizador do género de Stephen Sommers (Múmia e Van Helsing respectivamente) como mentor desta produção? Certamente mais um projecto risório e de um esforço inútil no que toca à mitologia da personagem. Se podia agradar a outro género de audiências? Isso já era outra história. A título de curiosidade, depois deste The Wolfman, já se ouve falar em novas possíveis adaptações de Frankenstein, O Homem Invisível e de O Monstro da Lagoa Negra, para completar o leque dos ‘monstros da Universal Pictures’.
Lawrence Talbot (Benicio del Toro) é um famoso actor de teatro, que após décadas passadas na América, regressa à sua terra natal em Londres após de ter recebido uma carta da sua cunhada (Emily Blunt) a anunciar o desaparecimento do seu irmão. Talbot regressa assim a Blackmoor para saber pelo seu próprio pai (Anthony Hopkins) que o seu irmão foi brutalmente assassinado por o que se acredita ser um homem-lobo segundo superstições locais. Talbot, durante a sua investigação para encontrar o assassino do seu irmão num campo de ciganos, têm um encontro com a tal criatura mas por sorte do destino (ou não) sobrevive ao ataque, para mais tarde descobrir que iria sofrer um destino pior que a morte. A juntar à acção da narrativa temos um sempre carismático Hugo Weaving como um detective de Scotland Yard que se encontra a investigar estes misteriosos crimes, mentalizado que seja um serial-killer com uma doença mental, ao invés de acreditar no folclore sobrenatural local. As suas suspeitas recaem sobre Lawrence Talbot, devido ao seu passado.
A história já é bem conhecida, e apesar deste The Wolfman divergir um pouco do original, é completamente fiel ao seu ambiente e atmosfera. É, portanto, um conceito de trama simples tal como é suposto ser, e apesar de não ser um remake praticamente fiel ao original (e sem o comic relief), quem o espera que seja meramente uma cópia sairá bastante surpreendido. Este The Wolfman parece um filme completamente novo, ao contrário de muitos outros casos, isto porque a história é fiel mas foi aperfeiçoada, moldada, com ligeiras diferenças para um resultado mais dark no grande ecrã, incluindo um twist – ainda que previsível – mas muito bem pensado. Algumas diferenças são totalmente justificadas para a narrativa do filme, tal como o próprio motivo, no início, do regresso de Lawrence Talbot à sua casa em Blackmoor. E a mais visível é sem dúvidas a personagem do pai, aqui muito mais antipática, fria e distante, e interpretada magnificamente por Anthony Hopkins, onde até a própria relação entre os dois são completamente distintas.
O melhor é que The Wolfman é bastante influenciado pelo modelo mais clássico e dramático de um género de cinema que parece por vezes muito esquecido actualmente, principalmente nas mais recentes produções de terror onde a sua intenção é de apenas facturar milhões numa fórmula sobre-carregada por remakes, re-boots e sequelas, onde de facto este filme também se engloba mas que nos deixa a pensar porque é que demorou tanto tempo? The Wolfman pode ser considerado como uma mistura do terror clássico com gore actual e consegue surpreender bastante pela positiva, pela sua frescura que sabe a ‘velho’ e que de certo irá agradar a todos os fãs de um género mais clássico e dramático.
As cenas de acção e terror são bastante excitantes e muito tensas, com uma atmosfera gótica a ajudar ao ambiente. A época retratada é combinada com uma fotografia lindíssima e super envolvente num retrato magistral. Desde a escura floresta de nevoeiros densos à calma e desconfiança de uma Londres Vitoriana, tudo isto é grandioso e magnifico na tela. Pode-se dizer que a nível técnico, e com um CGI muito bem aplicado (principalmente nas transformações), o filme é visualmente uma pérola, nunca exagerado e extremamente bem conseguido.
A banda sonora é assinada por Danny Elfman, entre muitas outras obras sobressai logo o seu trabalho nos filmes de Tim Burton. Elfman esteve também em vias de ser substituído, mas podemos dar sinceras graças por isso não ter acontecido, já que a música é outra das peças fortes do filme, que cirurgicamente transporta a narrativa no seu todo.
The Wolfman é no fim um filme sobre o destino, onde a personagem principal sofre por se tornar involuntariamente em mostro (um anti-monstro), mas mais do que isso, tal como A Bela e o Monstro, cita também um amor impossível e trágico, e Emily Blunt é aqui crucial como personagem e interpreta muito mais do que aquele simples e habitual interesse amoroso quase sem finalidade.
Pode-se muito bem dizer que esta nova versão de O Lobisomem está para o cinema como o Dracula: de Bram Stocker, de Francis Ford Coppola, esteve na altura (e ainda continua a estar). E apesar de The Wolfman ter dividido bastaste a crítica, fica aqui a minha aposta e a forte recomendação para este filme, numa ressurreição de um terror mais clássico e que irá certamente crescer ao longo dos anos.
"Even a man who is pure in heart and says his prayers by night,may become a wolf when the wolfbane blooms and the autumn moon is bright..."